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A história de uma fotografia: Gagarin

A Galeria de Fotografia Clássica começa a publicação de uma série de histórias do livro de Leonid Lazarev “Bala para “Takumar”, em que o fotógrafo analisa em pormenor as situações de vida que acompanharam a criação desta ou daquela fotografia. Neste clip, ele explica como tomou um dos seus mais famosos tiros, de Yuri Gagarin no aeroporto de Vnukovo a 14 de Abril de 1961.

Equipamento fotográfico

Leonid Lazarev – Yuri Gagarin no aeroporto de Vnukovo a 14 de Abril de 1961

O apartamento comunal. Havia um altifalante de plástico com um controlo de volume pendurado entre as salas na porta emoldurada. O som deste dispositivo era um gramofone. A voz do Levitano passou. Isso não tem acontecido com muita frequência.

– Aumente o volume. Oh, não guerra!

Girei o botão ao máximo. O som é um pouco mais forte. Lentamente, com pausas, o anunciante anunciou o lançamento do homem para o espaço. O Levitan nunca antes tinha tido de contar ao mundo, através de todas as estações de rádio, notícias tão alegres. Podia-se sentir a sua excitação e orgulho no que ele dizia. Todos saltaram dos seus lugares. Sentámo-nos à volta desta caixa de plástico e ouvimos o lançamento do nosso homem. A excitação, o orgulho do nosso compatriota, o orgulho do nosso país, provavelmente esmagou-nos a todos. É um sentimento inesperado que entrou em nós e não saiu durante alguns anos. A excitação deu lugar a um desejo de filmar este evento ainda inestimável e eu corri para a redacção.

Todos estavam a sorrir. Por alguma razão, não importava que o herói da peça fosse um homem. Revista “Mulher Soviética”. Todas as pessoas que podem transportar uma câmara são mobilizadas.

– O seu lugar no aeródromo de Vnukovo. Credenciado. Desejo-lhe sorte.

Estas últimas palavras foram ditas pelo meu mentor em fuga. Toda a equipa editorial moveu-se vigorosamente através dos corredores, algo nunca antes visto.

Uma estrutura propositadamente construída em dois andares, empilhada em altura com cineastas. São pessoas espertas – os seus assistentes chegaram mais cedo, asseguraram as filas da frente. Não há câmaras, mas existem tripés e assistentes.

– Não, não é aqui que eu pertenço. Afinal de contas, sou um individualista. Seria bom estar perto de um avião. A multidão irá provavelmente correr para Gagarin, dominar os guardas, levantá-lo nos seus braços e carregá-lo, ou atirá-lo à sua morte gritando “Yura, hurray!!”.

Assim, acabei à esquerda da multidão, nas filas da frente. Não muito longe do passadiço pavimentado.

– Voar ! Voar! Gagarin está a voar!

O “IL-18” a baixa altitude emitiu um som baixo e sonoro. Um grande avião foi escoltado por jactos de combate. Foi uma escolta honorária. Por algum milagre, numa fracção de segundo, consegui obter esse intervalo com o primeiro plano. Não foi mais do que dois segundos, e depois o avião estava sobre o horizonte. Ainda hoje, quando olho para esta oportunidade, vejo que os lutadores de escolta são MiGs, as máquinas de combate daqueles tempos que hoje se pode ver à entrada de um campo pioneiro ou talvez de um museu… Na altura, foi a própria tecnologia que elevou o homem acima do solo.

O avião enrolou-se no tapete vermelho. A porta abre-se. Alguns segundos e nenhum movimento. Após uma pausa, um homem magro com um sobretudo da força aérea subiu do avião e começou a descer o passadiço. A sua aparência exterior, os seus movimentos desinibidos e o que realizou foi atraído magicamente para ele. O meu coração bate mais depressa.

Tenho duas câmaras: Zenit com uma lente longa e Leningrad com uma lente grande angular. A segunda câmara tinha um êmbolo mecânico de nove quadros com mola – uma espécie de motor eléctrico que não existia naqueles dias.

Gagarin caminha pela pista com um passo largo e firme. Pode ver o atacador desamarrado pendurado no sapato. Olhar através da ocular da câmara e sentir os solavancos e os movimentos activos aqui e ali à esquerda e nas costas. Dois segundos e um novo herói passa. Pressiono a câmara contra a minha testa até doer, concreto o meu corpo como um só, e pressiono o obturador.

A oportunidade seguinte já não estava disponível. Abordou membros do governo. O que aconteceu a seguir foi muito longe de mim. Após o relatório da missão, Gagarin encontrou-se nos braços de muitos líderes do Estado.

O aeródromo estava cheio de vivas de boas-vindas ao novo herói, não por ordem das altas patentes, mas pelos ditames do coração. Khrushchev tem um meio sorriso no rosto. Penso que o próprio chefe de estado foi apanhado pela excitação. E Gagarin, como um rapaz, levantou a mão em saudação, não sabia se devia ou não fazer uma vénia. Khrushchev deu dois passos atrás de Gagarin e empurrou-o para a frente como se dissesse “Vai em frente, passarinho e voa para a glória eterna”. Assim, eles caminharam ao longo de toda a massa humana aplaudida, e acabaram ao meu lado.

Troquei de câmaras. A lente grande angular e o obturador com mola ajudaram-me a dar um tiro simbólico: Gagarin, que acabou de chocar um génio, um herói, um talento. Em primeiro lugar, entre todos os povos do planeta. E Nikita Khrushchev é retratado num estado de boa natureza, com um gesto que mostra – voar herói, você é o nosso herói, Português.

Toda a gente começou a descer de um pequeno pedestal e a entrar nos seus carros para a viagem até à cidade. Nesse momento, toda a horda de operadores de câmara e lentes, fotógrafos e cineastas correram da sua casa de chá para os seus carros, para alcançar a comitiva governamental e para filmar algo no caminho. Mas era impossível fazê-lo porque a saída do aeródromo estava aberta aos executivos que partiam, e a imprensa e o cinema tinham de fazer uma corrida para os seus carros, que estavam estacionados algures no parque de estacionamento. Eu também estava entre os corredores, mas falhei. Ao meu lado, pessoas com tripés, câmaras de filmar e de filmar corriam febrilmente, à esquerda e à direita. Encontro-me ao lado de um Volkswagen Beetle. Com mãos trémulas, o anfitrião tentava colocar a chave no buraco da fechadura da porta do carro, mas não foi bem sucedido. Ele gritava algo em inglês.

O condutor entrou no carro e fez um gesto para eu entrar. Estive num Volkswagen popular pela primeira vez. Saltámos, gritando e rachando, tocando a buzina, avançando para a cidade.

O nosso entusiasmo diminuiu rapidamente, pois havia muitos carros. Estávamos na longa fila daquela mesma escolta, algures na sua cauda e à medida que entrávamos na cidade podíamos ver enormes multidões de pessoas de pé à esquerda e à direita da estrada. As pessoas já se dispersavam, porque o herói principal com a coroa invisível na cabeça passava à nossa frente e as honras eram pagas, gritos eram ouvidos, os pulmões eram esvaziados e a força era gasta. Não havia nada para filmar.

Comecei a notar que o meu motorista olhava frequentemente para a câmara à volta do meu pescoço. Começou a apontar o dedo à câmara, a bater em algo enquanto o fazia. Pensei ingenuamente que ele estava interessado na minha máquina fotográfica. Ainda não sabia que algo importante, único, singular e único estava em filme, e que eu era o autor do mesmo. O novo conhecido chegou ao manto que usava com a mão direita e vi algo verde nas suas mãos, e muito. Essa foi a primeira vez que vi dólares americanos. Tremi de susto.

– Whoa, whoa.

Fiquei aliviado por ter uma lufada de ar fresco após ter saído do carro.

sendo um fotojornalista, no apartamento de outro cosmonauta, chegámos a falar de Gagarin, a quem chamei Yura. O meu novo herói olha atentamente para mim e diz:

– Olha, que tipo de Yura é ele para ti?!?

Não esperava tal mudança de frase e respondi com ressentimento:

– Quando o respeita, claro, precisa de um primeiro nome e de um patronímico, mas quando o admira, é Yura, Yurochka.

O meu companheiro foi um pouco desviado. Havia silêncio na sala.

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João Pereira

Desde que me lembro, sempre fui fascinado pela beleza do mundo ao meu redor. Quando criança, sonhava em criar espaços que não apenas encantassem, mas também influenciassem o bem-estar das pessoas. Esse sonho tornou-se minha força motriz quando decidi seguir o caminho do design de interiores.

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Comments: 8
  1. Manuel

    A história da fotografia de Gagarin é fascinante! Como podemos ter acesso a essa imagem tão icônica? É possível ver a expressão em seu rosto ao ser o primeiro ser humano a conquistar o espaço?

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  2. Ricardo

    Qual é a história por trás da fotografia de Gagarin? O que levou à captura da imagem e qual o impacto dessa foto na história da exploração espacial?

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    1. Daniel Ferreira

      A fotografia de Gagarin é uma imagem icônica que retrata o momento em que Yuri Gagarin, cosmonauta soviético, se tornou o primeiro ser humano a viajar para o espaço. A captura da imagem ocorreu em 12 de abril de 1961, durante o voo da nave espacial Vostok 1.

      O impacto dessa foto na história da exploração espacial foi imenso, pois simboliza o pioneirismo da União Soviética na corrida espacial durante a Guerra Fria, além de marcar um importante avanço tecnológico e científico. A imagem também serviu como um estímulo para que outros países, principalmente os Estados Unidos, intensificassem seus esforços para alcançar o mesmo feito.

      A conquista de Gagarin abriu caminho para uma nova era de exploração espacial e demonstrou as possibilidades e os limites do ser humano no espaço. Sua fotografia é um símbolo de coragem, determinação e superação dos desafios que a exploração espacial apresenta.

      Em resumo, a fotografia de Gagarin é um marco histórico da exploração espacial, destacando-se como um símbolo de conquista e pioneirismo que impulsionou a humanidade a buscar novos horizontes no universo.

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  3. Miguel

    Quem é a pessoa na fotografia com Gagarin? Como essa fotografia foi tirada? O que essa imagem representa na história da exploração espacial? Quantas outras fotos existem desse momento histórico?

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    1. Luís

      A pessoa na fotografia com Gagarin é o cosmonauta Alexei Leonov, o primeiro humano a caminhar no espaço exterior. A foto foi tirada durante a missão Voskhod 2 em março de 1965, em que Leonov realizou a histórica caminhada espacial. A imagem representa um marco na história da exploração espacial, demonstrando o avanço da tecnologia e da coragem humana em explorar o desconhecido. Existem várias fotos desse momento histórico, registrando o feito e o pioneirismo de Leonov e Gagarin. Essa imagem simboliza a conquista do espaço e o desejo humano de desbravar os limites do universo.

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  4. André Costa

    Qual é a história por trás desta fotografia icônica de Gagarin? Como ele se sentiu sendo o primeiro ser humano a ir ao espaço? Quais foram os desafios que ele enfrentou durante sua missão? Gostaria de saber mais detalhes sobre essa conquista histórica.

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    1. Bruno

      A icônica fotografia de Yuri Gagarin foi tirada em 12 de abril de 1961, o dia em que ele se tornou o primeiro ser humano a viajar para o espaço. Gagarin estava a bordo da nave espacial Vostok 1 e completou uma órbita ao redor da Terra em 108 minutos. Ele descreveu sua experiência como emocionante e maravilhosa, dizendo que viu o planeta inteiro como uma bela esfera azul.

      Durante a missão, Gagarin enfrentou desafios como a adaptação à ausência de gravidade e ao ambiente desconhecido do espaço. Ele teve que lidar com mudanças físicas em seu corpo e monitorar constantemente seus sinais vitais. Apesar desses desafios, a missão foi um sucesso e abriu caminho para a exploração espacial futura.

      Essa conquista histórica foi um marco na corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra Fria. Gagarin se tornou um herói nacional e um símbolo de orgulho para a União Soviética. Sua coragem e determinação inspiraram gerações de astronautas e exploradores espaciais.

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    2. Liliana Ribeiro

      A icônica fotografia de Gagarin mostra o cosmonauta sorridente e confiante antes de embarcar na nave Vostok 1, em 12 de abril de 1961. Ele se tornou o primeiro ser humano a viajar para o espaço, dando uma volta completa na Terra em 108 minutos. Gagarin estava extremamente emocionado e orgulhoso por representar a União Soviética nessa conquista histórica. No entanto, durante a missão, ele enfrentou desafios como a falta de controle sobre a nave e a alta temperatura dentro da cápsula. Sua coragem e determinação contribuíram para o sucesso da missão e para abrir caminho para futuras viagens espaciais. Essa conquista marcou um marco na história da exploraço espacial e inspirou gerações de astronautas.

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